HOMILIA
A Responsabilidade de Expandir o Bem no Reino de Deus
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de Lucas 19,11-28 nos traz uma parábola profundamente provocativa, que nos desafia a refletir sobre a administração dos dons recebidos de Deus. Em uma realidade como a nossa, onde o roubo, a corrupção e a apropriação indevida parecem ter se tornado comuns, a mensagem de Jesus ressoa como um convite à transformação interior e social.
O homem nobre da parábola representa Cristo, que confia a cada um de nós talentos, capacidades e oportunidades. Esses dons não nos pertencem, mas são concedidos para que, através deles, possamos colaborar na edificação de um Reino que não se fundamenta no acúmulo egoísta, mas na expansão do bem, da justiça e da verdade. Quando optamos pelo roubo – seja material, moral ou espiritual – negamos a essência desse chamado e subtraímos do outro aquilo que lhe é devido.
Nesta sociedade, o roubo não está apenas nos grandes escândalos que vemos nos noticiários. Ele está presente quando não utilizamos nossos talentos para o bem comum, quando negamos o tempo que poderíamos dedicar ao próximo ou quando preferimos acumular em vez de compartilhar. Essa atitude nos alinha ao servo negligente da parábola, que, por medo ou indiferença, enterra o que recebeu, bloqueando o fluxo de crescimento e abundância que Deus espera de nós.
Aos servos fiéis que multiplicaram as minas, o Senhor confiou ainda mais. Isso nos ensina que a fidelidade nas pequenas coisas tem um impacto que ultrapassa nossas vidas individuais. Cada ação virtuosa que realizamos – por menor que pareça – reverbera no tecido universal, gerando um movimento de transformação e progresso que nos aproxima do cumprimento pleno do Reino.
No entanto, a mensagem não é apenas de esperança, mas também de advertência. Aos que rejeitam o chamado e se opõem ao reinado de Deus, a parábola anuncia juízo. Não por arbitrariedade divina, mas porque quem vive de maneira contrária à verdade acaba colhendo os frutos de sua própria desordem.
Neste tempo, somos chamados a ser contracultura em um mundo que normaliza o roubo. Cabe a nós viver como administradores fiéis, não apenas rejeitando a corrupção externa, mas combatendo as sementes de egoísmo dentro de nós mesmos. Que possamos multiplicar os dons que recebemos, confiantes de que cada ato de bondade, justiça e serviço contribui para um Reino que não conhece fim.
Que nossas vidas sejam um testemunho de fidelidade e transformação, para que, ao final, ouçamos do Senhor as palavras tão desejadas: "Muito bem, servo bom e fiel. Porque foste fiel no pouco, eu te confiarei muito." Assim seja.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"A todo aquele que tem será dado, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado." (Lucas 19,26)
Esta frase, rica em significado, revela uma profunda dinâmica do Reino de Deus, que transcende interpretações simplistas de justiça humana. Ela deve ser compreendida à luz de três dimensões: a graça divina, a cooperação humana e a justiça escatológica.
1. A Dinâmica da Graça Divina
No Reino de Deus, "ter" não se refere meramente à posse material, mas à abertura interior à graça. Quem "tem" é aquele que reconhece e acolhe os dons de Deus – seja a fé, os talentos ou as oportunidades – e os utiliza para a glória divina e o bem dos outros. Esse "ter" implica uma relação ativa e generosa com a fonte da graça. Por isso, quem "tem" receberá ainda mais, pois Deus, em sua generosidade infinita, recompensa a fidelidade e amplia as capacidades de quem as utiliza em harmonia com sua vontade.
2. A Cooperação Humana na Graça
O ato de "ter" envolve a resposta do ser humano à graça recebida. A parábola que precede essa frase mostra que aqueles que multiplicaram as minas foram recompensados. Esse multiplicar simboliza o uso criativo, fiel e proativo dos dons confiados por Deus. Já quem "não tem" é aquele que, por medo, indiferença ou egoísmo, falha em corresponder à graça. A graça, que é dinâmica e requer movimento, não pode permanecer estagnada; quando não é usada, perde sua eficácia e se dissipa.
3. A Justiça Escatológica
Esta frase também aponta para a justiça escatológica do Reino de Deus. No juízo final, a resposta que cada um deu aos dons de Deus será revelada. Quem multiplicou os talentos dados por Deus entrará na plenitude do Reino, recebendo em abundância, enquanto quem os enterrou – simbolizando a negligência espiritual – experimentará a perda definitiva até mesmo do que parecia ter. Essa não é uma punição arbitrária, mas a consequência natural de uma vida que rejeita a comunhão com Deus e o propósito para o qual fomos criados.
4. Um Chamado à Responsabilidade e à Fé
Teologicamente, essa frase sublinha o princípio de que a graça é cooperativa. Deus concede os dons, mas espera a participação ativa do ser humano. É um convite à confiança e à ousadia espiritual, a investir os talentos recebidos, sabendo que o Senhor é justo e misericordioso. Aqueles que vivem essa lógica não apenas prosperam espiritualmente, mas também contribuem para a realização do Reino de Deus na história.
Assim, "a todo aquele que tem será dado" é um lembrete do dinamismo da graça e da generosidade de Deus; "mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" revela a seriedade de nosso chamado a viver em plenitude, multiplicando o bem que nos foi confiado para a glória de Deus e o bem de toda a criação.
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