HOMILIA
Caminho de Esperança em Tempos de Tribulação
Amados irmãos e irmãs, o Evangelho de hoje nos convida a refletir sobre as palavras de Jesus em Lucas 21,12-19, palavras que ecoam com impressionante relevância nos dias atuais, quando as forças do poder político muitas vezes ameaçam os pilares da justiça, da liberdade e da dignidade humana.
Cristo nos alerta: “Sereis entregues até por pais, irmãos, parentes e amigos, e alguns de vós serão mortos” (v. 16). Essas palavras nos recordam que a fidelidade à verdade, à justiça e aos valores divinos pode levar a confrontos inevitáveis com os sistemas que buscam subjugar e controlar. Hoje, testemunhamos o sofrimento daqueles que ousam erguer a voz contra opressões e desigualdades, enfrentando perseguições, injustiças e a destruição das bases democráticas que deveriam proteger a liberdade de todos.
Mas Jesus também nos promete: *“Pela vossa perseverança, salvareis as vossas almas”* (v. 19). Aqui, encontramos a chave para compreender a nossa missão. A perseverança não é uma mera resistência passiva, mas um movimento profundo do espírito que busca transformar adversidades em oportunidades para manifestar o Reino de Deus. A paciência, neste contexto, não é resignação, mas a capacidade de manter-se firme na esperança, ancorado na certeza de que o amor e a verdade prevalecerão.
Nosso mundo, em sua turbulência, está em processo de transformação. As crises políticas, a polarização e os ataques à democracia são sinais de um sistema em colapso, que clama por renovação. No entanto, como nos ensina o Evangelho, o caos não é o fim, mas um momento de gestação de algo maior. Em meio a perseguições e conflitos, cada ação de coragem e verdade semeia o futuro que Deus nos promete: uma humanidade unida na justiça e na paz.
Cabe a nós, como discípulos, sermos testemunhas dessa esperança. Não temer os confrontos, mas confiar na sabedoria que o Espírito nos dará no momento certo, conforme Jesus prometeu: *“Eu vos darei boca e sabedoria, às quais todos os vossos adversários não poderão resistir, nem contradizer”* (v. 15).
Que estejamos dispostos a enfrentar os desafios de nossa era com coragem e fé, reconhecendo que, em cada passo, somos chamados a colaborar com Deus na construção de um mundo renovado. A perseverança, portanto, não é apenas um meio de salvação pessoal, mas uma força que nos une à obra divina, preparando o caminho para a plenitude do Reino.
Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Pela vossa perseverança, salvareis as vossas almas." (Lc 21,19)
Essa frase, pronunciada por Jesus, encerra uma das maiores promessas do Evangelho: a salvação da alma não é fruto de ações externas grandiosas, mas da fidelidade interior ao plano divino mesmo nas situações mais adversas. Ela nos oferece uma chave teológica profunda para compreender a dinâmica da salvação como um processo que envolve tanto a ação divina quanto a cooperação humana.
Perseverança: mais que resistência
No contexto bíblico, perseverança (*hypomonē* no grego) não se limita a uma resistência passiva diante do sofrimento. Ela é ativa, uma constância firme que reflete confiança total em Deus. Perseverar é manter-se fiel à vontade divina, mesmo quando as circunstâncias externas parecem obscurecer o sentido dessa fidelidade. É um ato contínuo de entrega, que se alimenta da graça e cresce na comunhão com Cristo.
Salvar a alma: um processo de transformação
Salvar a alma (*psychē* no grego) não se refere meramente à preservação da vida física ou à obtenção de uma recompensa futura, mas à participação na vida divina aqui e agora. A alma é a sede da vida espiritual, o espaço em que Deus age para transformar o ser humano à imagem de Cristo. Pela perseverança, a alma é purificada, moldada e elevada a um estado de união mais profunda com Deus.
A dinâmica da graça e da liberdade
Essa frase sublinha a tensão teológica entre graça e liberdade. A salvação é, em última instância, obra de Deus, mas ela requer nossa resposta ativa. Perseverar significa cooperar com a graça que continuamente nos sustenta, permitindo que Deus nos molde através das provações e desafios. A salvação, assim, não é algo imposto, mas um processo que envolve nossa adesão amorosa ao chamado divino.
O contexto escatológico
O Evangelho de Lucas coloca essas palavras no contexto dos discursos escatológicos de Jesus, onde Ele descreve tempos de tribulação e perseguição. Nesse cenário, perseverar não é apenas questão de sobrevivência, mas de testemunho. É a confirmação de que, apesar das forças contrárias, o Reino de Deus já está presente e operante na história. A perseverança torna-se um sinal visível da esperança que não decepciona, porque está fundamentada em Deus.
Cristo como modelo de perseverança
Jesus é o exemplo supremo de perseverança. Em sua paixão e morte, Ele revela o poder redentor de uma fidelidade inabalável à vontade do Pai. Seguindo-O, somos convidados a tomar nossa cruz e confiar que, no meio do sofrimento, Deus está realizando a obra de redenção.
Conclusão
"Pela vossa perseverança, salvareis as vossas almas" é, ao mesmo tempo, uma promessa e um desafio. Ela nos chama a confiar que, mesmo nas circunstâncias mais difíceis, Deus está presente, conduzindo-nos à plenitude da vida. Perseverar é um ato de fé e amor, que nos insere no mistério da salvação como colaboradores da obra divina em nós mesmos e no mundo.
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