HOMILIA
"O Encontro que Redefine a Existência"
Amados irmãos e irmãs,
O Evangelho de Lucas 19,1-10 nos apresenta Zaqueu, um homem pequeno em estatura, mas profundamente necessitado de significado. Ele vive cercado de riqueza, mas seu coração está vazio. Em seu ato de subir em uma figueira, vemos um gesto simbólico: ele se eleva para enxergar algo maior do que sua própria condição. Esse movimento reflete uma busca universal, presente também em nossa época, onde o sentido da vida é uma questão urgente.
Vivemos tempos desafiadores. O índice crescente de suicídios revela um grito silencioso de almas que se sentem perdidas, esmagadas pela solidão, pela falta de propósito ou pelo peso de expectativas inalcançáveis. É como se multidões ao nosso redor bloqueassem a visão de algo maior, tal como a multidão bloqueava Zaqueu. Muitos, incapazes de encontrar uma direção, se deixam consumir por uma desesperança que os desliga da própria vida.
No entanto, o encontro entre Jesus e Zaqueu traz uma verdade revolucionária: o olhar de Cristo atravessa as barreiras da multidão, da riqueza, dos pecados e da vergonha. Jesus enxerga Zaqueu. Esse olhar nos lembra que somos profundamente conhecidos, amados e desejados por Deus. Mesmo quando nos sentimos perdidos, há uma presença que nos busca, que nos chama para descer de onde estamos e nos convida à comunhão.
A transformação de Zaqueu nos ensina que o sentido da vida não está no que possuímos, mas na nossa capacidade de nos doar, de reconciliar o passado e de responder ao chamado do amor. Quando Zaqueu entrega seus bens aos pobres e repara o que havia feito, ele não apenas muda suas ações, mas redefine sua existência. Ele se torna participante de uma realidade maior, um movimento de salvação que dá valor à sua vida e o conecta com o Todo.
Hoje, somos chamados a ser como Jesus, a enxergar os que sobem em “figueiras invisíveis” buscando esperança. Precisamos ser um olhar de acolhimento, uma voz que diz: “Desce depressa, hoje quero estar contigo.” E se somos nós que estamos na figueira, que possamos ouvir esse chamado e deixar que a presença divina nos redescubra, nos salve e nos dê uma nova missão.
O Filho do Homem continua buscando e salvando o que estava perdido. Que esse amor incondicional nos inspire a ser luz para os outros e a redescobrir o valor infinito de nossas vidas. A cada um de nós, Jesus diz: “Hoje, a salvação entrou na sua casa.”
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
"Pois o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido." (Lucas 19,10)
Essa frase, colocada no final do encontro entre Jesus e Zaqueu, é uma síntese teológica poderosa que revela o cerne da missão de Cristo e a profundidade do mistério da salvação. Vamos explorá-la em três dimensões: a identidade do Filho do Homem, a busca divina, e a salvação do que estava perdido.
1. A identidade do Filho do Homem
O título "Filho do Homem" é uma autodesignação frequente de Jesus nos Evangelhos, evocando imagens de humildade e glória. Ele aponta para a humanidade de Cristo, ao mesmo tempo que alude à visão apocalíptica de Daniel 7,13-14, onde o Filho do Homem é apresentado como uma figura messiânica que recebe autoridade universal. Em Lucas 19,10, Jesus revela que essa autoridade não é imposta pela força, mas manifestada no serviço e na misericórdia. O Filho do Homem não vem para condenar, mas para resgatar, revelando um Deus que se faz próximo ao sofrimento humano.
2. A busca divina
"Veio buscar" expressa uma iniciativa divina que parte do coração de Deus. A humanidade caída, simbolizada por "o que estava perdido", não tem a capacidade de encontrar a Deus por si mesma. O ato de buscar é mais do que uma procura; é uma jornada de amor sacrificial que culmina na encarnação e na cruz. Essa busca é pessoal e comunitária: Deus não se contenta em deixar ninguém perdido, mas empenha-se em trazer cada alma de volta à comunhão. No contexto de Zaqueu, a busca divina é expressa no gesto concreto de Jesus ao entrar na casa de um homem rejeitado pela sociedade, sinalizando que ninguém está fora do alcance de sua misericórdia.
3. A salvação do que estava perdido
"Salvar" no contexto bíblico vai além de uma libertação do pecado ou das dificuldades terrenas. A palavra em grego, sōzō, significa restaurar, curar e fazer completo. A salvação é um processo de reconciliação, onde o ser humano é restaurado à sua plena identidade como imagem de Deus. "O que estava perdido" não se refere apenas a Zaqueu como indivíduo, mas simboliza toda a humanidade afastada de Deus. O gesto de Zaqueu, ao restituir e doar metade de seus bens, demonstra que a salvação atinge não apenas a alma, mas transforma também a vida concreta, social e relacional.
Aplicação Teológica
Essa declaração final de Jesus coloca em perspectiva a economia divina da salvação: um movimento dinâmico onde Deus desce para elevar, busca para reconciliar e salva para transformar. A "perda" aqui não é uma condição estática, mas uma alienação que pode ser superada pela abertura ao chamado de Deus. A missão de Jesus é universal, mas também profundamente individual, alcançando cada ser humano em sua necessidade única.
Conclusão
Em Lucas 19,10, Jesus não apenas declara o propósito de sua missão, mas revela a profundidade do amor de Deus: um amor que não mede esforços para buscar, encontrar e salvar. Essa frase nos desafia a reconhecer nossa condição de "perdidos" e a confiar no poder transformador da graça. Somos chamados a deixar-nos ser encontrados por Cristo, e, como Zaqueu, a transformar nossas vidas em um reflexo desse amor redentor. Assim, o mistério do Filho do Homem que busca e salva se torna não apenas uma verdade teológica, mas uma realidade vivida e compartilhada.
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