HOMILIA
O Templo da Vida e a Defesa do Sagrado
Queridos irmãos e irmãs, hoje, refletimos sobre o Evangelho de João 2,13-22, onde Jesus entra no templo de Jerusalém e, com zelo profundo, purifica aquele espaço sagrado que havia sido transformado em um lugar de comércio. Ele nos ensina que o templo deve ser um lugar de encontro com o Divino, um espaço onde a vida e a verdade são respeitadas e celebradas.
Diante dessa cena, somos levados a uma reflexão urgente sobre o valor da vida, especialmente no contexto dos desafios e dilemas éticos que enfrentamos nos dias de hoje. Um dos temas mais dolorosos e controversos da nossa época é o aborto, que representa uma ferida profunda na sacralidade da vida. Se Jesus se indignou ao ver o templo profanado, quão maior seria sua indignação ao testemunhar o crime contra a vida inocente, o santuário mais sagrado que é o ventre de uma mãe, onde uma nova alma começa a se formar.
O ventre materno é o templo mais puro que Deus criou, o espaço onde a vida é tecida de maneira misteriosa e bela. Tirar a vida em formação é mais do que uma decisão individual; é uma ruptura com o próprio projeto divino de amor e criação. A humanidade, quando desrespeita a sacralidade da vida, profana o templo do corpo, que foi destinado a ser um lugar de acolhimento e proteção.
Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma conversão profunda, uma purificação de nossas consciências para defender a vida desde o momento da concepção. Jesus nos chama a ser guardiões da vida, reconhecendo que cada ser humano, mesmo o mais vulnerável e indefeso, é um templo de Deus. O zelo que Jesus teve pelo templo deve nos inspirar a ter um zelo ainda maior pela dignidade e santidade da vida.
O Evangelho nos ensina que a vida é um dom sagrado, um mistério que nos transcende. Quando negligenciamos esse dom ou o tratamos com desprezo, perdemos algo essencial da nossa humanidade. O chamado de Jesus à renovação do templo é também um convite a renovar nosso compromisso de proteger e honrar a vida em todas as suas etapas. Que possamos ser corajosos em defender aqueles que não têm voz, levando ao mundo a mensagem de que a vida é sagrada, inviolável e digna de ser acolhida com amor e respeito.
Que o Espírito Santo nos dê a força e a sabedoria para agir em favor da vida, transformando nossos corações e inspirando nossas ações em defesa daqueles que mais precisam de proteção: os inocentes e indefesos. E que o zelo de Jesus pelo templo se torne o nosso zelo pela dignidade da vida humana, para a glória de Deus e a esperança de um futuro mais cheio de amor e verdade.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A frase de Jesus em João 2,19, “Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei”, é uma das declarações mais misteriosas e teologicamente profundas no Evangelho. Ela carrega múltiplas camadas de significado que revelam o coração da missão de Jesus e a transformação radical que Ele veio trazer ao mundo.
1. Contexto Histórico e Teológico
Jesus pronuncia essas palavras no contexto de sua purificação do templo de Jerusalém, um local sagrado para o povo de Israel, onde Deus era adorado segundo a tradição judaica. O templo simbolizava a presença de Deus entre os homens, e o fato de Jesus anunciar sua destruição e posterior reconstrução aponta para uma nova era. Ele sugere que algo maior do que o templo físico está por vir, e essa realidade está vinculada à sua própria pessoa.
2. O Corpo de Jesus como Templo
Jesus referia-se ao seu corpo ao falar do “templo”. Essa identificação é crucial: Ele é a plenitude da presença de Deus entre os homens. O templo de Jerusalém era apenas uma prefiguração do que se realizaria de maneira perfeita em Jesus Cristo. No corpo de Jesus, a divindade habita plenamente (cf. Colossenses 2,9), e Ele é o novo templo, o lugar onde Deus e a humanidade se encontram de forma definitiva. Assim, a encarnação transforma a ideia de templo de algo material para algo pessoal e encarnado na realidade de Jesus.
3. O Mistério da Paixão, Morte e Ressurreição
O "destruir" refere-se ao sacrifício de Jesus na cruz, quando Ele entregaria sua vida pela redenção do mundo. A destruição do templo, ou seja, sua morte, é um ato de aparente derrota, mas na verdade é o prelúdio de uma vitória eterna. A ressurreição, ao terceiro dia, é a reconstrução do “templo” de seu corpo, glorificado e vencedor sobre a morte. Aqui está o centro do mistério pascal: a vida nova que emerge da destruição, a glória que brota do sacrifício.
4. O Templo e a Nova Aliança
A declaração de Jesus inaugura a Nova Aliança, na qual o relacionamento com Deus não é mais mediado por um edifício físico, mas por Cristo, o Filho de Deus, que é o Mediador entre o céu e a terra. Na ressurreição, Jesus se torna o centro do culto e da adoração, e sua Igreja, o Corpo Místico de Cristo, continua a ser o novo templo onde Deus habita. Cada cristão é chamado a ser templo do Espírito Santo (cf. 1 Coríntios 6,19), tornando-se parte dessa construção viva que é o Corpo de Cristo.
5. A Dimensão Escatológica
Essa frase também aponta para uma realidade futura, quando toda a criação será redimida e glorificada. A ressurreição de Jesus é o primeiro fruto dessa nova criação. Ele é o primogênito dentre os mortos, e sua vitória sobre a morte inaugura a esperança de uma nova vida para toda a humanidade. O templo eterno que Jesus levanta é a promessa da plenitude da comunhão com Deus no final dos tempos, onde Deus será tudo em todos (cf. 1 Coríntios 15,28).
6. O Significado para Nós Hoje
Teologicamente, essa frase nos desafia a ver além das realidades físicas e temporais. Somos chamados a entender que a verdadeira adoração e o verdadeiro culto são agora centrados em Cristo. A ressurreição nos lembra que o sofrimento e a morte não têm a última palavra. Assim como o corpo de Jesus foi glorificado, também somos chamados a uma transformação e renovação contínuas, vivendo como templos vivos de Deus.
Conclusão
“Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei” é uma revelação do mistério do plano de Deus: a encarnação, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus. É uma proclamação de esperança e de renovação. Por meio de sua ressurreição, Jesus não apenas revela seu poder divino, mas também oferece a todos nós a promessa de nova vida, transformando a morte em caminho de glória. Cada um de nós é convidado a entrar nessa realidade, tornando-nos templos vivos, abertos à presença de Deus e comprometidos com a construção de um mundo renovado pela esperança da ressurreição.
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