terça-feira, 4 de novembro de 2014

A PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR DESONESTO Lc 16,1-8 - 07.11.2014


HOMILIA

Jesus contou aos seus discípulos a estória de um homem administrador de grande fazenda, em que se cultivavam cereais e oliveiras. O respectivo proprietário vivia na cidade distante, de modo que delegava amplos poderes ao seu ecônomo: tratava com os colonos e clientes do seu patrão; alugava, vendia e comprava a seu bel-prazer.
Um dia o procurador foi chamado ao escritório do seu patrão, que lhe disse secamente: Eu andei ouvindo umas coisas a respeito de você. Agora preste contas da sua administração porque você não pode mais continuar como meu administrador.
A partir daqui se infere que na verdade o administrador era, desonesto, mas também leviano; levava vida fácil e alegre, jogando com os bens de que dispunha cada dia, sem mesmo se preocupar com o amanhã ou com o seu próprio enriquecimento. Era o homem "não sábio", insensato, que, ao ser demitido, se viu dolorosamente embaraçado: nada tinha para garantir o seu futuro, pois simplesmente dilapidava os bens do patrão. Levou, pois, um grande susto!
Pôs-se então a monologar consigo mesmo: O patrão está me despedindo. E, agora, o que é que eu vou fazer? Não tenho forças para cavar a terra e tenho vergonha de pedir esmola. Ah! Já sei o que vou fazer... Assim, quando for mandado embora, terei amigos que me receberão nas suas casas. Ele não se desculpava, mas reconhecia a sua culpa. Que faria doravante? Cavaria a terra? Mendigaria?
Nem uma coisa nem outra; o procurador, que fizera às vezes de senhor de boa categoria social, tinha vergonha; ademais, para cavar a terra, faltavam-lhe as forças e o hábito; quanto a mendigar, parecia-lhe duplamente vergonhoso, depois de uma vida abastada; com efeito, os judeus consideravam a mendicância como castigo de Deus; ver Eclo 40,28s: Filho, não vivas mendigando: é melhor morrer do que mendigar. Ao homem que olha para a mesa alheia, a vida não deve ser contada como vida. Até nisto tem razão porque Deus não nos fez para a mendigagem. Mas para a vida plena.
De repente, o procurador descobriu um artifício astuto para se livrar das dificuldades. Chamaria cada um dos devedores do patrão e diminuiria a sua dívida; quem aceitasse tão vantajosa negociata, ficaria depois obrigado a receber em sua casa o administrador demitido e carente de apoio.
Assim o desonesto ecônomo aproveitou os últimos dias de sua gestão não para devolver o que roubara, mas para roubar mais ainda, só que, dessa vez, com proveito para si, com previdência, com esperteza, ele que sempre roubara com leviandade e futilidade. Compreende-se que os credores tenham aceite prontamente a "interessante" proposta do administrador, sem pensar talvez nas obrigações que contraíam para com ele num futuro próximo. Notemos, aliás, o estilo do diálogo do ecônomo com os devedores: começa pela pergunta: "Quanto deves ao meu senhor?", pergunta retórica, pois o administrador devia saber o montante; a questão, porém, era válida para recordar ao devedor à importância da sua dívida; reconheceria melhor o vulto do favor que lhe era prestado pelo ecônomo astuto. Assim na hora do reembolso ficava com a diferença como se fosse seu honorário ou seu juro.
Colocando no recibo a quantia real, ele apenas estava se privando do benefício que lhe tocaria segundo o costume vigente. Sua desonestidade, portanto, não consistiria na redução de dívidas devidas ao patrão, mas nas ações fraudulentas anteriores que provocaram a sua demissão.
A parábola nos ensina, como outras já estudadas, a aproveitar os bens que temos, não necessariamente o dinheiro, mas outros dons de Deus... Enquanto é tempo, enquanto somos peregrinos à luz desta vida terrestre. "Hoje, Oxalá ouçais a sua voz... Não endureçais vossos corações,... como vossos pais, que me tentaram, embora tivessem visto as minhas obras" (SI 94,7-9). Não sabemos quantas vezes ainda diremos "Hoje...". Daí a premência de aproveitar o presente.
Saibamos tirar proveito também dos sustos e reveses desta vida ou... até mesmo do pecado. Deus pode permitir o pecado para que despertemos da inconsciência para um comportamento mais definido e coerente. Tudo é graça no plano de Deus; tudo pode servir à nossa salvação.
O grande mal que pode acometer num cristão é a mediocridade de vida, é a acomodação sem dinamismo. Para Deus, só pode haver uma resposta condigna: doar-se totalmente, sem regateios. Diz o Senhor: "Conheço a tua conduta: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar de minha boca" (Ap 3,15s). O desfibramento da vida cristã, que por si é extremamente dinâmica, é que causa a perplexidade e a indiferença do mundo ateu. "Vós sois o sal e a luz do mundo...", diz o Senhor (Mt 5,13). Portanto, Deus quer que tu sejas sal e luz no mundo para o mundo.
Fonte Padre BANTU SAYLA

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