HOMILIA
O Chamado às Coisas do Pai
Amados irmãos e irmãs,
Hoje somos convidados a mergulhar na cena do Evangelho de Lucas em que o jovem Jesus, aos doze anos, permanece no templo, entre os doutores, enquanto seus pais o procuram angustiados. Ao ser encontrado, ele responde: "Não sabíeis que devo estar nas coisas de meu Pai?".
Essa passagem nos leva a refletir sobre o profundo significado de estar nas "coisas do Pai". Jesus não apenas declara sua missão, mas revela um caminho para todos nós: o de nos alinharmos àquilo que é essencial e eterno. Em um mundo repleto de distrações, onde somos frequentemente atraídos por objetivos efêmeros, a pergunta de Jesus ecoa como um chamado. Será que estamos buscando aquilo que realmente importa? Estamos vivendo com a consciência de que há algo maior nos esperando e nos guiando?
As “coisas do Pai” não se limitam ao templo físico, mas abrangem a presença divina que permeia toda a criação e a vida. Elas se manifestam no amor que cultivamos, na verdade que defendemos e na paz que promovemos. Estar nas “coisas do Pai” significa reconhecer que somos parte de uma realidade mais ampla, onde cada ação nossa colabora para o bem maior e para a transformação do mundo.
A resposta de Jesus também nos desafia a olhar para as crises da nossa época com os olhos da fé. Em meio às angústias e buscas da humanidade, somos chamados a ser sinais vivos da esperança e da graça. Como Maria e José, muitas vezes não compreendemos plenamente o que Deus realiza em nossas vidas. No entanto, a atitude de Maria, que guardava tudo em seu coração, nos ensina a acolher os mistérios de Deus com humildade e confiança.
Portanto, que esta passagem ilumine o nosso caminho. Que possamos crescer, como Jesus, em sabedoria, estatura e graça, cultivando a nossa relação com Deus e com o próximo. E que, ao contemplarmos as “coisas do Pai”, descubramos o nosso propósito e sejamos instrumentos de transformação, fazendo do hoje um reflexo do eterno. Amém.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teológica de Lucas 2,49
A frase "Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estar nas coisas de meu Pai?" (Lc 2,49) é um ponto central no relato da infância de Jesus, revelando tanto sua consciência divina quanto o início do mistério de sua missão. A profundidade dessa declaração pode ser analisada sob diversas perspectivas teológicas:
1. Consciência da Filiação Divina
Esta é a primeira vez que Jesus, nos Evangelhos, faz uma declaração pública sobre sua relação especial com Deus, chamando-o de meu Pai. Ao usar essa expressão, Jesus transcende a compreensão comum de Deus como Pai de Israel e se identifica como o Filho em um sentido único. Ele demonstra plena consciência de sua identidade e missão, indicando que sua obediência à vontade do Pai celestial está acima de qualquer vínculo humano, ainda que reverencie seus pais terrenos.
2. Missão e Prioridade Espiritual
Ao afirmar que deve estar nas "coisas de meu Pai", Jesus revela a centralidade de sua missão. A expressão "coisas de meu Pai" refere-se tanto à casa de Deus (o templo) quanto à obra divina que Jesus veio realizar no mundo. Aqui, encontramos o primeiro indício de que sua vida será totalmente dedicada ao cumprimento do plano salvífico do Pai, algo que culminará em sua paixão, morte e ressurreição. Sua prioridade não é a segurança humana, mas a realização da vontade divina.
3. Conexão com o Mistério Pascal
A cena antecipa o mistério pascal. O fato de Jesus ter sido "perdido" por três dias por seus pais simboliza sua morte e ressurreição. Assim como Maria e José experimentaram a angústia de sua ausência, os discípulos e a humanidade enfrentariam o luto de sua crucificação, seguido pela alegria de encontrá-lo novamente ressuscitado. Essa passagem, portanto, carrega uma dimensão profética.
4. A Obediência de Jesus
Apesar de sua resposta enigmática, o texto conclui afirmando que Jesus "era-lhes obediente" (Lc 2,51). Isso demonstra que sua obediência à vontade do Pai não contradiz sua submissão aos seus pais terrenos. Em vez disso, ele integra perfeitamente as dimensões humana e divina de sua vida. Este equilíbrio entre obediência terrena e celestial é um modelo para todos os cristãos.
5. A Busca Humana por Deus
Teologicamente, a pergunta de Jesus também é dirigida a nós: "Por que me procuráveis?". Essa indagação nos convida a refletir sobre como e onde buscamos Deus em nossa vida. Frequentemente o procuramos nas preocupações imediatas, mas Jesus nos aponta para as "coisas do Pai", ou seja, os valores do Reino de Deus: amor, justiça, verdade e misericórdia.
6. O Papel de Maria e José
Maria e José representam a humanidade em busca de compreender os mistérios divinos. Embora não compreendam plenamente as palavras de Jesus, Maria as guarda no coração. Esse ato de meditar e acolher os mistérios de Deus em silêncio é essencial para o discipulado cristão.
Conclusão
Essa frase é um convite ao reconhecimento da primazia de Deus em nossa vida. Ela nos desafia a buscar a presença divina nas realidades profundas e a nos alinharmos com a vontade do Pai. Ao seguir o exemplo de Jesus, somos chamados a descobrir e a viver nossa identidade e missão como filhos e filhas de Deus, em obediência amorosa e participação ativa na obra divina de redenção.
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