HOMILIA
Urgência e Renovação na Missão de Cristo
No Evangelho de Lucas 12,49-53, Cristo declara: "Eu vim para lançar fogo à terra, e que mais quero, se já está aceso?" Essa imagem poderosa do fogo expressa a essência de sua missão: transformar e purificar o mundo, promovendo uma mudança radical na ordem espiritual e nos corações humanos. Jesus não veio para trazer uma paz passiva, mas para provocar uma mudança que exige ruptura, renovação e, inevitavelmente, divisão.
Nos dias de hoje, essa mensagem é mais relevante do que nunca. Vivemos em um mundo fragmentado, em que as tensões sociais, morais e espirituais parecem crescer, muitas vezes, por conta de um distanciamento profundo da verdadeira essência do Evangelho. Cristo nos chama a reconhecer que sua presença entre nós não visa acomodar as nossas zonas de conforto ou reafirmar as estruturas que promovem injustiça e egoísmo. Pelo contrário, Ele nos convoca a um movimento de transformação interior e exterior, um movimento que muitas vezes exige rompimentos e desafios às convenções.
O fogo que Jesus traz é o da purificação. Ele queima o que é velho, o que é impuro, o que impede a expansão do Reino de Deus. E, em nossos dias, esse fogo também se manifesta na necessidade urgente de revermos nossas prioridades. A sociedade moderna, centrada em valores de consumismo, superficialidade e individualismo, é desafiada a se abrir à ação purificadora de Cristo. Ele nos chama a uma renovação profunda da maneira como nos relacionamos com Deus, com os outros e com o mundo.
Mas esse processo de transformação é doloroso. O próprio Jesus alerta que a divisão será inevitável. Às vezes, seguir a Cristo implica um rompimento com padrões familiares, sociais e culturais que se opõem aos valores do Evangelho. O chamado à santidade é, muitas vezes, um caminho solitário, onde ser fiel à missão de Cristo exige coragem para resistir ao comodismo e à mediocridade.
A nova ordem espiritual que Cristo inaugura não pode ser moldada pelos parâmetros do mundo. É uma ordem que emerge da cruz, do sacrifício e do amor incondicional. Uma ordem que desafia o status quo e nos convida a sermos testemunhas de uma esperança radical que só pode ser sustentada pela ação purificadora de Deus.
Neste tempo de inquietações, de conflitos e incertezas, somos chamados a abraçar o fogo de Cristo. A permitir que Ele queime o que é superficial e nos guie para uma vida marcada pela justiça, pelo amor e pela coragem de seguir seus passos, mesmo que isso signifique divisões e incompreensões. Pois é através dessa purificação que o Reino de Deus floresce e que, unidos à sua missão, participamos da renovação do mundo.
EXPLIVAÇÃO TEOLÓGICA
A frase "Eu vim para lançar fogo à terra, e que mais quero, se já está aceso?" (Lucas 12,49) é uma das declarações mais enigmáticas e profundas de Jesus. Ela revela o propósito ardente e transformador de sua missão. A teologia por trás desta afirmação mergulha em três conceitos fundamentais: o fogo como símbolo da presença divina, a purificação espiritual e o juízo escatológico.
O Fogo como Símbolo da Presença Divina
Na tradição bíblica, o fogo frequentemente representa a presença de Deus. No Antigo Testamento, vemos o fogo de Deus no monte Sinai (Êxodo 19), na sarça ardente (Êxodo 3) e como a chama que guia os israelitas pelo deserto (Êxodo 13). O fogo aqui é uma manifestação da glória divina, uma força que não pode ser contida ou manipulada pelos homens. Quando Jesus fala sobre lançar fogo à terra, Ele está se referindo à vinda dessa presença poderosa de Deus para transformar o mundo.
Purificação Espiritual
O fogo também tem uma conotação purificadora. Em várias passagens, o fogo é o meio pelo qual Deus purifica seu povo. Malaquias 3,2-3, por exemplo, fala de Deus como o "refinador de prata," que purifica seu povo como ouro no fogo. A missão de Jesus não se limita a ensinar ou a curar, mas a trazer uma purificação radical. Esse fogo é o Espírito Santo, que desce sobre os discípulos em Pentecostes (Atos 2), inflamando suas vidas com o poder de Deus. Jesus deseja que esse fogo seja aceso plenamente, purificando o coração humano de todo pecado e imperfeição. Ele quer transformar a humanidade à imagem e semelhança de Deus, e esse processo de purificação envolve muitas vezes dor, sofrimento e arrependimento.
O Juízo e a Separação
A missão de Jesus também envolve juízo. O fogo, na tradição profética, é uma imagem do juízo divino. Quando Ele declara que veio lançar fogo à terra, Ele está falando de um julgamento que trará separação. Esse fogo é um critério que divide os que aceitam o Reino de Deus dos que o rejeitam. Na continuidade do capítulo 12 de Lucas, Jesus fala da divisão que sua mensagem trará, mesmo entre familiares. O Reino de Deus é uma realidade exigente; não há espaço para neutralidade. O fogo que Ele traz exige uma resposta: ou aceitamos a purificação e transformação que Ele oferece, ou nos opomos a Ele.
A Missão Escatológica de Jesus
Finalmente, esse fogo aponta para uma dimensão escatológica, isto é, relacionada aos "últimos tempos." Jesus, com sua morte e ressurreição, inaugura os tempos finais, o Reino de Deus na terra. Ele anseia pelo cumprimento pleno de sua obra redentora, e a metáfora do fogo fala dessa urgência. A missão de Jesus é completar a criação, restaurando todas as coisas em Deus. O "fogo" já está aceso, no sentido de que sua presença transformadora já está operando no mundo, mas o cumprimento pleno desse fogo ainda está por vir, quando Ele vier em glória.
Conclusão
A frase de Jesus, portanto, é um convite para nos abrirmos à ação purificadora e transformadora de Deus em nossas vidas. O fogo que Jesus traz é a presença viva do Espírito, que purifica, julga e inaugura uma nova era de salvação. Este é o fogo do amor divino que consome o mal e renova o mundo, preparando-o para o cumprimento do Reino de Deus.
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