HOMILIA
A Fé que Nos Projeta ao Infinito
Amados, o Evangelho nos apresenta hoje um encontro decisivo entre Jesus e um homem que, diante da iminência da morte de seu filho, busca a intervenção do Mestre. Seu pedido é direto, ansioso, preso ainda à necessidade do concreto: “Senhor, desce antes que meu menino morra!” (Jo 4,49). Mas a resposta de Cristo abre um horizonte novo: “Vai, teu filho vive” (Jo 4,50).
Aqui, algo essencial acontece. O homem poderia ter insistido, exigido uma presença visível, um gesto físico, um sinal que confirmasse a promessa. Mas ele escolhe crer. Crer na palavra, na essência da verdade que se manifesta além da forma. Seu coração se abre ao que não se pode tocar, mas se pode reconhecer. E, ao partir, ele encontra a vida onde antes via apenas a ameaça do fim.
Esta passagem nos ensina que a fé não é um refúgio em milagres, mas uma ascensão à verdade última. Enquanto o olhar humano permanece fixado nos sinais sensíveis, Cristo nos convida à liberdade de uma confiança que ultrapassa o que é tangível. Crer não é aguardar uma confirmação externa, mas lançar-se, com plenitude, ao chamado da existência maior.
A fé não se reduz à aceitação passiva, mas é uma escolha ativa que expande a consciência. O oficial do rei, ao crer na palavra de Jesus, não apenas vê a cura de seu filho, mas descobre a profundidade da verdade. Assim também nós, quando libertamos nossa alma das amarras do visível, entramos em comunhão com aquilo que é eterno e vivo.
O verdadeiro sentido da fé é caminhar na direção do infinito, sabendo que a vida se manifesta não apenas no que vemos, mas no que reconhecemos no mais íntimo de nosso ser. Cristo não oferece provas; oferece a verdade. E essa verdade é a única força capaz de transformar, pois não impõe, mas desperta. Quem crê, caminha. Quem caminha, alcança. Quem alcança, descobre que já estava na plenitude desde sempre.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
“Vai, teu filho vive” (Jo 4,50) – A Palavra que Transcende o Tempo e o Espaço
A frase dita por Jesus ao oficial do rei sintetiza um princípio fundamental da revelação divina: a eficácia da Palavra como manifestação absoluta da Verdade. Não há rito, não há toque, não há presença física necessária para que a vida seja restaurada. Há apenas a Palavra, que, sendo plena em si mesma, contém em sua essência a realização daquilo que expressa.
1. A Autoridade Criadora da Palavra
Desde o Gênesis, a Palavra é o princípio gerador: “Dixitque Deus: Fiat lux. Et facta est lux.” (E Deus disse: Faça-se a luz. E a luz foi feita. – Gn 1,3). No Logos eterno, a realidade se estrutura e ganha consistência. Quando Jesus diz ao oficial “Vai, teu filho vive”, ele não está apenas anunciando um fato; ele está atualizando, naquele instante, a realidade da vida. A Palavra de Cristo não descreve, mas gera, não informa, mas transforma.
2. A Superação das Distâncias: O Reino Não Está Preso ao Espaço
O pedido do oficial era concreto: que Jesus descesse até Cafarnaum. Mas Jesus revela que a ação divina não está circunscrita ao espaço. Seu poder não depende da proximidade material, mas da abertura do coração daquele que crê. O oficial, ao aceitar a Palavra e partir sem mais questionamentos, inaugura uma nova dimensão da fé: aquela que não exige presença sensível, mas confia plenamente no Verbo que age além do visível.
3. O Tempo Redimido: A Sincronia da Graça
Quando o homem retorna, descobre que a cura ocorreu exatamente no momento em que Jesus falou (Jo 4,53). Não há demora, não há processo gradativo: a Palavra de Deus realiza o que diz no instante em que é proferida. Aqui, vemos um vislumbre da eternidade penetrando o tempo: o “agora” de Deus se manifesta dentro da história, redimindo o instante e tornando-o portador da plenitude.
4. A Fé Como Abertura ao Infinito
O oficial acreditou e partiu. Esta é a dinâmica da fé: confiar e seguir adiante, sem exigir provas. A fé autêntica não é passiva, mas ativa; ela não aguarda sinais, mas avança sustentada pela certeza interior. O oficial, ao crer, expande sua existência para além da dúvida e entra no movimento da graça.
Conclusão: A Palavra Que Nos Envia
A ordem de Cristo — “Vai” — é um chamado para todos os que creem. Aquele que escuta a Palavra e a acolhe é impulsionado para a existência plena. Assim como o oficial partiu sem hesitação, também nós somos chamados a caminhar na confiança total, sabendo que a vida verdadeira não depende do que vemos, mas do que ouvimos no mais íntimo da alma.
Cristo não diz apenas ao oficial: ele nos diz a cada instante — "Vai, teu ser vive!" — e, se aceitarmos essa Palavra, já não caminhamos na incerteza, mas na luz daquele que, sendo Vida, nos chama para a plenitude.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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