segunda-feira, 24 de março de 2025

Homilia Diária e Explicação Teológica - 26.03.2025


 HOMILIA

O Cumprimento da Lei como Plenitude do Ser

No caminho da revelação, a Lei não é um conjunto de preceitos exteriores, mas a expressão viva de uma ordem que transcende o tempo e os limites humanos. Jesus, ao declarar que não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, manifesta a verdade última do ser: não há ruptura entre a origem e a consumação, mas uma continuidade que se revela na fidelidade ao princípio.

A Lei, entendida em sua essência, não é um obstáculo à liberdade, mas sua condição mais elevada. Pois a verdadeira liberdade não consiste em escapar da ordem do real, mas em integrá-la com plena consciência. O céu e a terra podem passar, mas o sentido do mundo não se dissolve, pois ele é sustentado por um desígnio que se desdobra na história.

Cada mandamento, ainda que pareça pequeno, é parte de um todo indivisível. Ignorá-lo, ou ensinar que pode ser ignorado, fragmenta a realidade, afastando a inteligência da unidade que conduz à plenitude. Mas aquele que cumpre e ensina, que se torna testemunha da harmonia invisível sustentando todas as coisas, esse participa da grandeza do Reino.

A Lei se cumpre no amor, e o amor se realiza na verdade. Não há dualidade entre obediência e crescimento, pois quem compreende a Lei como um chamado à perfeição, vive já no horizonte da eternidade. Jesus não veio impor um jugo, mas abrir um caminho, e esse caminho é a unificação do ser com sua origem e seu destino.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Cristo como Plenitude da Lei e dos Profetas

A afirmação de Jesus em Mateus 5,17 — "Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para abolir, mas para cumprir." — contém em si um dos princípios fundamentais da economia da salvação: a continuidade entre a Antiga e a Nova Aliança. Este versículo situa-se no contexto do Sermão da Montanha, onde Cristo manifesta o verdadeiro sentido da Lei divina, não como um código de normas exteriores, mas como expressão da ordem divina inscrita no ser.

A "Lei" (Nomos, no grego) refere-se à Torá, o conjunto dos mandamentos e preceitos que regulavam a vida de Israel segundo a vontade de Deus. Os "Profetas" representam a voz dinâmica de Deus na história, interpretando e atualizando a Lei à luz da fidelidade divina. Cristo, ao dizer que não veio abolir, mas cumprir (plērōsai, no original grego), revela que Ele não é um legislador humano que impõe novas normas ou rejeita as antigas; Ele é a plenitude daquilo que a Lei e os Profetas sempre apontaram.

Cumprir a Lei não significa apenas obedecer-lhe formalmente, mas levá-la à sua realização perfeita. A Lei mosaica era uma pedagogia (paidagōgós, como dirá São Paulo em Gl 3,24), conduzindo a humanidade a Cristo. As prescrições rituais e morais da Antiga Aliança tinham um valor preparatório, sombras de uma realidade futura (Hb 10,1). Em Cristo, não se trata de revogar a Lei, mas de transfigurá-la: os sacrifícios antigos apontavam para o sacrifício supremo da cruz, a purificação ritual era figura da purificação do coração, e a justiça prescrita pela Lei torna-se, em Cristo, um chamado à santidade interior.

Ao longo do Sermão da Montanha, Jesus explicita essa plenitude da Lei ao revelar seu sentido mais profundo. A Lei dizia: "Não matarás", mas Ele diz: "Quem se irar contra seu irmão já é réu de juízo" (Mt 5,21-22). A Lei dizia: "Não cometerás adultério", mas Ele diz: "Quem olhar para uma mulher com desejo impuro já cometeu adultério no coração" (Mt 5,27-28). Aqui, vemos que o cumprimento da Lei não é sua simples manutenção, mas sua elevação: o que antes era prescrito como norma externa, agora deve ser vivido como uma transformação interior.

Cristo, como Logos encarnado, é a própria Lei viva, a encarnação da ordem divina que sustenta o cosmos e a história. Ele não elimina a antiga revelação, mas a consuma. Não há um Deus da Lei e um Deus da Graça, como queriam os gnósticos, mas um único Deus que conduz progressivamente sua criação à plenitude da verdade. A Antiga Aliança encontra sua finalidade na Nova, e a Nova Aliança não existe sem a Antiga. O que era figura se faz realidade; o que era preparação se faz cumprimento.

Dessa forma, a Lei não é revogada, mas integrada à plenitude da revelação em Cristo. Ele não é um reformador de normas, mas o próprio cumprimento da promessa divina. Seu chamado não é à simples obediência legalista, mas à comunhão plena com Deus, onde a Lei, longe de ser um fardo, torna-se a expressão viva da verdade e do amor.


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