HOMILIA
A Humildade como Caminho da Plenitude
O ser humano, ao longo de sua jornada, busca a elevação, mas frequentemente confunde grandeza com exaltação de si mesmo. O fariseu da parábola acreditava que sua retidão lhe conferia um estado superior, pois cumpria ritos e observâncias exteriores, medindo sua justiça pela inferioridade dos outros. No entanto, a verdadeira ascensão não está na comparação, mas na sincera disposição de crescer.
O publicano, ciente de suas falhas, não ousa levantar os olhos ao céu, pois compreende que sua essência não se realiza em autosuficiência, mas na abertura ao transcendente. Ele não se aferra a méritos aparentes, mas lança-se àquele que dá sentido à sua existência. E é esse ato de reconhecimento e entrega que o justifica.
A grande ilusão do homem é crer que pode estruturar-se em sua própria grandeza, quando, na realidade, a plenitude se encontra na liberdade de ser verdadeiro. Aquele que se apega ao próprio orgulho fecha-se à dinâmica do crescimento; aquele que se esvazia de sua vaidade encontra espaço para ser preenchido pelo que é eterno.
A ascensão do espírito não se dá por autoafirmação, mas por integração à ordem suprema do Amor, que é ao mesmo tempo origem e destino. Quem se humilha não anula sua dignidade, mas a expande ao reconhecer que só se é plenamente quando se está em comunhão com a fonte da Vida. E, ao se abandonar nessa luz, já não precisa proclamar sua grandeza, pois a própria verdade se encarrega de elevá-lo ao seu mais alto propósito.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Lei da Inversão: Humildade e Exaltação na Economia Divina
A afirmação de Cristo em Lucas 18,14 — "Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado." — revela uma das grandes leis espirituais que regem a relação entre o homem e Deus. Essa verdade não é apenas um princípio moral ou um ensinamento ético, mas a manifestação de uma realidade ontológica profunda: a humildade não é uma virtude acessória, mas a via de acesso ao ser pleno.
1. O Paradoxo da Humildade e Exaltação
A lógica divina opera por inversão em relação à lógica humana. No mundo, exalta-se aquele que acumula poder, conhecimento ou prestígio. Na economia divina, porém, a verdadeira grandeza não se mede pela autoafirmação, mas pela abertura ao Absoluto. O homem que se exalta crê possuir em si mesmo a razão última de sua dignidade e, ao fechar-se nessa ilusão, distancia-se da fonte que poderia realmente elevá-lo. Por outro lado, quem se humilha, não no sentido de uma anulação servil, mas na consciência de sua contingência, abre-se à graça e, assim, é elevado à verdadeira plenitude.
2. A Humilhação como Desapego da Ilusão do Eu
O orgulho exalta o homem na medida em que o faz crer autossuficiente. Essa exaltação, no entanto, é vazia, pois se fundamenta em algo perecível: o ego e suas construções ilusórias. A humilhação que se segue não é um castigo imposto por Deus, mas a consequência natural de uma existência fundamentada no transitório. Quando o homem edifica sua grandeza sobre si mesmo, descobre, mais cedo ou mais tarde, que sua base é frágil e destinada à queda.
A humildade, por outro lado, não consiste em uma negação do valor pessoal, mas no reconhecimento de que toda grandeza autêntica provém da integração ao princípio supremo do Amor. O humilde não se reduz à insignificância, mas encontra sua verdadeira identidade ao se colocar em relação com o Infinito.
3. Cristo como Modelo Supremo
Jesus encarna essa lei em sua própria vida: sendo o Verbo eterno, não reivindica para si glória mundana, mas assume a condição de servo (cf. Fl 2,6-11). Ele não se exalta segundo os critérios humanos, mas se entrega, e é precisamente essa entrega que o conduz à glória da ressurreição. Sua exaltação não é resultado de um poder autoimposto, mas da perfeita conformação à vontade do Pai.
Assim, o ensinamento de Lucas 18,14 é a chave da verdadeira realização humana. Não é a força própria que nos eleva, mas a adesão humilde à verdade maior que nos transcende. Somente aquele que se esvazia de si pode ser plenamente preenchido pelo Ser, e é nessa entrega que se encontra a verdadeira exaltação.
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