HOMILIA
O Retorno à Origem: A Jornada do Ser na Liberdade do Amor
A parábola do filho pródigo não é apenas um relato de erro e perdão, mas um retrato da própria existência humana. Dois caminhos se apresentam: um, que busca a autonomia sem compreensão da responsabilidade; outro, que se aprisiona na obediência sem alegria. Ambos partem de um mesmo ponto e, sem perceberem, distanciam-se da plenitude.
O filho mais novo representa a alma que, desejando explorar sua individualidade, afasta-se da fonte, acreditando que a posse dos bens é suficiente para sua realização. Mas ao dissipar-se no efêmero, percebe que a abundância sem sentido conduz ao vazio. No momento mais árido de sua jornada, o desejo de liberdade se converte em necessidade de retorno. Não porque perdeu os bens, mas porque descobriu que sem a verdade não há riqueza que satisfaça.
O pai, que simboliza o amor sem condicionamentos, não exige explicações. Corre ao encontro daquele que retorna, pois reconhece que a distância não estava nos passos, mas na consciência. O acolhimento não significa ignorar a queda, mas transformar a experiência em crescimento. A liberdade genuína não é mera separação, mas a comunhão consciente com a origem.
O filho mais velho, fiel, mas ressentido, revela outro perigo: a servidão sem compreensão. Ele permaneceu, mas não entendeu que estar na casa do pai era, por si só, a maior herança. Seu coração esperava um reconhecimento que já possuía. A liberdade do amor não divide, mas integra. Quem se alegra com o retorno do irmão já se encontra em estado de plenitude.
Essa parábola nos ensina que a grandeza da existência não está na posse ou na obediência vazia, mas na consciência de que todo afastamento pode ser caminho de retorno e todo retorno é um renascimento. O verdadeiro sentido da liberdade não está em escapar do vínculo, mas em reconhecê-lo como origem e destino, não como prisão, mas como plenitude.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Mistério do Retorno: A Ressurreição da Consciência e a Redescoberta do Ser
A frase "Porque este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado" (Lc 15,24) contém, em sua profundidade, o eixo da revelação divina sobre a liberdade humana, a conversão e a restauração da filiação.
1. A Morte como Separação Existencial
No contexto bíblico, a morte não é apenas o cessar biológico da vida, mas a separação do ser em relação à sua fonte. O afastamento do filho representa o distanciamento da verdade, pois ao abandonar a casa do pai, ele se desconecta não apenas de seu lar, mas de sua própria identidade. A "morte" aqui não é um aniquilamento, mas um obscurecimento da consciência, um exílio da realidade última que sustenta e orienta o ser.
2. O Reviver como Restauração Ontológica
O renascimento do filho não se dá por uma simples mudança de circunstância, mas pela redescoberta de seu sentido de existência. Sua queda no vazio do exílio forçou-o a confrontar sua própria finitude e dependência da verdade. Quando decide retornar, ele já não busca os bens materiais que antes julgava essenciais, mas o reencontro com sua origem. O "reviver" ocorre porque sua consciência desperta para o que sempre foi real: sua filiação.
3. O Estar Perdido como a Ilusão do Isolamento
Perder-se é mais do que errar um caminho geográfico; é obscurecer o olhar espiritual. O filho não se perdeu apenas por afastar-se fisicamente, mas por ter tentado afirmar-se como um ser autônomo, sem reconhecer que sua identidade está enraizada no amor do Pai. Esse estado de perdição reflete a condição humana quando se distancia da verdade e busca preencher sua existência com bens que não sustentam a alma.
4. O Ser Encontrado como a Plenitude da Graça
O retorno do filho não é apenas um ato seu; é também um movimento do Pai. O pai corre ao seu encontro, pois a conversão autêntica é sempre um mistério de liberdade e graça. O reencontro não anula o passado, mas o ressignifica. O filho, que antes julgava-se independente, agora compreende que sua verdadeira grandeza está na comunhão.
A frase de Lucas 15,24 revela o dinamismo da existência humana: a liberdade pode afastar, mas também permite o retorno. A morte do erro pode dar lugar à ressurreição da verdade, e a perdição do ser só é definitiva se este se recusa a ser encontrado. O Pai sempre espera, pois na verdade última do amor, não há condenação, apenas a eterna possibilidade de renascer.
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