HOMILIA
O Amor que Eleva à Plenitude
Ao ouvir as palavras do Evangelho – "Amai os vossos inimigos" – o coração humano hesita, pois a razão natural inclina-se ao conflito, ao limite imposto pelo instinto de defesa. Contudo, o convite do Cristo não é um peso sobre os ombros, mas uma chave que liberta. Amar sem distinção não é um gesto de fraqueza, mas a expressão suprema da força, pois quem ama sem fronteiras reconhece sua própria infinitude.
Na dinâmica do existir, a liberdade se manifesta na escolha consciente de expandir-se para além dos condicionamentos, dissolvendo as barreiras que separam. O amor que apenas retribui amor permanece aprisionado na repetição. Mas aquele que rompe essa lógica e ama sem esperar retorno, esse experimenta a essência do divino dentro de si.
A perfeição à qual somos chamados não é estática, mas um contínuo avançar rumo ao mais alto grau de realização do ser. O Pai faz nascer o sol sobre bons e maus, não por indiferença, mas por sua própria plenitude. Assim também aquele que compreende a grandeza do amor não restringe sua luz, pois encontrou a única verdade que não se impõe, mas se oferece.
Amar os inimigos não significa ceder ao mal, mas superá-lo por uma lógica superior. O que habita na verdade não teme a oposição, pois sua força não vem da imposição, mas da comunhão com aquilo que é eterno. No amor está o movimento que conduz ao auge do real, onde cada ser se torna participante da plenitude que o chama.
Que cada coração desperte para essa liberdade suprema, onde o amor não é um peso, mas o voo da alma em direção ao infinito.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
O Chamado à Perfeição: A Plenitude do Ser em Deus
A frase "Sede, pois, perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito." (Mt 5,48) encerra um dos ensinamentos mais sublimes de Cristo e impõe à razão humana uma questão fundamental: como pode o finito alcançar a perfeição do Infinito?
1. A Perfeição Divina e o Caminho do Ser
A perfeição do Pai não é uma perfeição estática, mas a plenitude absoluta do Ser. Deus é ato puro, sem potencialidade não realizada, pois n’Ele não há carência. Sua perfeição não é um atributo entre outros, mas sua própria essência. Quando Cristo convida os homens à perfeição, Ele os chama a participar dessa plenitude, não por equivalência ontológica, mas por conformação à vontade divina.
2. O Significado da Perfeição Humana
A perfeição humana não consiste em uma impecabilidade absoluta, mas no movimento incessante de elevação. O ser humano, contingente e marcado pela temporalidade, não pode ser perfeito no sentido absoluto, mas pode tornar-se cada vez mais perfeito na medida em que se une a Deus. A perfeição cristã é um caminho dinâmico de comunhão, onde cada ato de amor verdadeiro nos configura ao Criador.
3. O Amor como Expressão Suprema da Perfeição
O contexto imediato do versículo indica que essa perfeição está ligada ao amor incondicional: "Amai os vossos inimigos". A perfeição divina se manifesta em um amor que transcende qualquer reciprocidade natural. Deus faz chover sobre justos e injustos não por cegueira moral, mas porque seu amor é puro dom. O ser humano, ao amar sem fronteiras, participa dessa lógica divina e rompe os limites do egoísmo.
4. A Perfeição e a Liberdade Espiritual
Aquele que busca a perfeição em Cristo descobre que ela não é imposição exterior, mas expansão interior. O amor não é um dever que oprime, mas um chamado à liberdade mais alta, onde o ser já não se define pelos vínculos do medo ou da retribuição, mas pela entrega confiante ao que é eterno. Assim, a perfeição não é uniformidade ou rigidez moral, mas a expressão mais plena da verdade que habita no coração iluminado pela graça.
5. A União com o Pai e o Fim Supremo do Homem
A frase de Cristo aponta para o fim último do homem: a comunhão com Deus. Esse chamado ecoa a santidade prefigurada no Antigo Testamento: "Sede santos, porque eu sou santo" (Lv 19,2). Mas Cristo eleva essa vocação ao nível da filiação, pois convida-nos não apenas a imitar a Deus, mas a sermos seus filhos, participando de sua vida.
Assim, a perfeição que Cristo exige não é um fardo impossível, mas um horizonte de plenitude, onde a alma encontra repouso ao doar-se sem medida, refletindo na temporalidade a luz do Eterno.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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