HOMILIA
A Vinha e a Plenitude do Ser
A parábola da vinha confiada a lavradores nos apresenta um drama eterno: o chamado à responsabilidade e a recusa em reconhecer a fonte originária de toda posse e poder. O Senhor concede a vinha ao homem, não como um domínio absoluto, mas como uma missão de cultivo, um espaço onde a liberdade deve se harmonizar com a verdade. Mas o que acontece quando a liberdade se desvincula da ordem que a sustenta?
Os lavradores da parábola, ao se apropriarem da vinha, rejeitam os servos e, por fim, o próprio herdeiro. Aqui se encontra o mistério da resistência à verdade: quando esta se manifesta, os que temem perder seu controle sobre o mundo tentam silenciá-la. O herdeiro representa aquele que traz consigo a plenitude do sentido, que desvela o propósito da criação. Mas os que se encerram em sua própria posse não suportam a presença daquele que lhes recorda que não são senhores, mas administradores.
A história da vinha é a história do ser humano diante do chamado à grandeza. Ou se abre à verdade, permitindo que sua existência floresça na justiça e no reconhecimento da origem de tudo, ou se fecha em si mesmo, condenando-se à perda da própria herança. A pedra angular rejeitada torna-se a medida de todas as coisas, pois apenas aquele que aceita sua posição diante da plenitude pode construir sobre fundamentos sólidos.
Assim, cada um de nós é confrontado com esta escolha: cultivar a vinha na fidelidade ao seu sentido original ou agir como aqueles que se apropriam do que não lhes pertence. A justiça última não é uma punição arbitrária, mas o desdobramento inevitável das escolhas que fazemos. Aquele que se abre ao chamado será conduzido à abundância; aquele que se apega ao que é transitório verá tudo escapar de suas mãos.
A vinha permanece. O Senhor continua a chamá-los. Quem responderá com sabedoria?
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Pedra Angular: Rejeição e Glorificação na Economia Divina
A frase dita por Jesus em Mateus 21,42 — "A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso foi feito pelo Senhor, e é maravilhoso aos nossos olhos?" — sintetiza um princípio teológico fundamental: a manifestação da verdade eterna por meio do paradoxo da rejeição e da exaltação.
A Pedra Rejeitada e a Dialética do Reino
A imagem da "pedra angular" remete ao Salmo 117,22, onde já se prenunciava a inversão das expectativas humanas diante da ação divina. O contexto imediato da parábola da vinha indica que Jesus identifica a si mesmo como essa pedra: enviado pelo Pai como herdeiro legítimo, mas rejeitado pelos líderes religiosos que, cegos pela posse do poder, não reconhecem sua autoridade.
Essa rejeição, no entanto, não representa um fracasso, mas um desígnio providencial. Deus permite que a pedra seja descartada para que, por meio da rejeição, ela alcance seu verdadeiro lugar. Aqui se revela um princípio espiritual profundo: a verdade que o mundo despreza é aquela que sustenta a criação e conduz a história ao seu cumprimento.
A Pedra Angular e a Estrutura da Salvação
A pedra angular não é um mero elemento estrutural, mas a peça que dá coesão a toda a construção. Na arquitetura antiga, essa pedra era posicionada no ângulo da edificação ou no ponto mais alto do arco, unificando as forças e sustentando a estrutura. Aplicado à teologia da salvação, isso significa que Cristo não é apenas um mensageiro ou um exemplo moral, mas o próprio fundamento da nova criação.
A rejeição de Cristo pela humanidade representa a resistência do coração endurecido à luz da verdade. No entanto, essa mesma rejeição é transformada em glorificação: ao ser lançado fora, Cristo assume a posição mais alta, tornando-se a referência absoluta para toda a ordem espiritual e cósmica. O que foi negado pelos homens é confirmado pelo próprio Deus, e essa confirmação é mirabile in oculis nostris — algo maravilhoso aos olhos dos que possuem a visão para enxergar.
A Lógica Divina e a Transformação do Destino Humano
Esse versículo também revela o princípio da inversão divina: o que parece fracasso, em Deus se torna vitória; o que é desprezado pelos homens é escolhido para manifestar a glória. Essa é a lógica da cruz e da ressurreição.
Mas há um chamado implícito na metáfora da pedra angular: a necessidade de reconhecer onde repousam os verdadeiros alicerces da existência. Os que rejeitam a pedra condenam-se a uma edificação instável, fundamentada em ilusões transitórias. Os que a reconhecem constroem sobre a verdade que sustenta tudo.
Por fim, a maravilha descrita no versículo é a percepção da ordem divina que se manifesta naquilo que parecia caos. A providência age onde a mente humana vê apenas destruição. A pedra que os homens desprezaram é, na realidade, a que lhes dará estabilidade eterna.
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