HOMILIA
A Responsabilidade da Liberdade e o Destino da Alma
Amados, contemplamos hoje uma parábola que ilumina a profundidade do destino humano. O rico e Lázaro não são apenas personagens de um relato moral, mas sinais de uma realidade maior, onde cada escolha reverbera na eternidade. O rico, encerrado em sua autossuficiência, viveu apenas para o imediato, enquanto Lázaro, na privação, aguardava silenciosamente o que não perece.
A liberdade nos concede o poder de construir o nosso ser. Não há imposição exterior que determine nossa jornada; são nossas ações que moldam o horizonte de nossa existência. O rico não foi condenado por sua prosperidade, mas pelo fechamento de sua alma, pela recusa em ver além de si mesmo. A grande separação entre ele e Lázaro não foi um decreto arbitrário, mas a consequência natural de sua própria escolha: viver como se nada além do tangível existisse.
O tempo da vida não é apenas uma sucessão de instantes, mas um campo de crescimento do espírito. Cada ato de generosidade fortalece os laços que nos unem ao destino último, enquanto a indiferença nos isola num vazio interior. A alma que se alimenta apenas do transitório torna-se incapaz de reconhecer o que é verdadeiro, e mesmo um milagre não a despertaria.
A voz de Abraão ressoa como um chamado ao discernimento: aquele que não percebe a verdade nas pequenas coisas tampouco a reconhecerá diante do extraordinário. Não há imposição externa para a elevação do ser, mas uma construção íntima, na qual a liberdade encontra sua mais alta realização no reconhecimento do outro.
Que o olhar se abra ao essencial e o coração compreenda que a verdadeira grandeza não reside no que se acumula, mas naquilo que se torna. Pois somente aquele que se dá encontra-se plenamente.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Lei da Justiça e a Verdade do Ser
A resposta de Abraão ao rico não é apenas uma explicação sobre a mudança de destinos, mas uma revelação da ordem espiritual que rege a existência. Neste versículo, encontramos a manifestação de um princípio fundamental: cada ser se define por suas escolhas e pelo modo como se relaciona com a verdade.
O Rico e a Ilusão da Autossuficiência
O homem rico viveu como se o mundo visível fosse a totalidade do real. Cercado de bens, ele não apenas os possuía, mas se deixou possuir por eles. Sua falha não foi a prosperidade em si, mas sua total dependência do transitório, tornando-o incapaz de perceber a presença de Deus e do outro. Seu tormento na eternidade não é um castigo arbitrário, mas a consequência de um fechamento existencial: ele edificou sua vida sobre o efêmero, e ao deixar este mundo, nada mais lhe restava.
Lázaro e a Abertura ao Absoluto
Lázaro, por sua vez, é a imagem daquele que, na privação, aprende a esperar no que não passa. Seu sofrimento terreno não o define; pelo contrário, ele se mantém aberto ao mistério do ser e, por isso, encontra a plenitude na eternidade. A consolação que recebe não é uma recompensa automática por sua dor, mas a consequência natural de um coração que permaneceu voltado para aquilo que transcende.
A Justiça de Deus e a Verdade da Alma
O que Abraão declara ao rico não é um simples ajuste de contas, mas a manifestação de um princípio espiritual: cada alma caminha em direção ao seu próprio destino conforme aquilo que ama e busca. O juízo divino não é uma imposição externa, mas a revelação daquilo que cada ser preparou dentro de si. O rico, que viveu voltado apenas para si mesmo, encontra agora o isolamento definitivo. Lázaro, que permaneceu na esperança, entra na comunhão plena.
O Chamado à Consciência e à Liberdade
A parábola nos ensina que o tempo presente é o espaço da escolha. Enquanto caminhamos neste mundo, somos chamados a direcionar nossa existência para o que é verdadeiro. A liberdade nos foi dada não para a autossuficiência, mas para o crescimento no amor. No final, não há um mero equilíbrio de bens e males, mas a revelação do que cada alma se tornou. Pois quem se fecha sobre si mesmo já inicia seu exílio espiritual, e quem se abre ao outro já antecipa a plenitude que não tem fim.
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