HOMILIA
O Chamado à Plenitude do Ser
A história do filho pródigo é mais do que um relato de queda e redenção; é a revelação do dinamismo interior da existência. Há um instante em que a alma anseia pela liberdade, distante da tutela, desejosa de explorar horizontes ainda não conhecidos. Parte-se, então, com a ilusão da posse, crendo que o mundo exterior suprirá o que internamente ainda não se descobriu.
Mas a liberdade sem direção torna-se errância. O que parecia conquista se dissipa, e a plenitude esperada revela-se um vazio. O filho distante, ao tocar o limite da carência, desperta para o que sempre esteve ao seu alcance: a verdadeira herança não estava nos bens, mas no vínculo. Não era a matéria que o sustentava, mas a presença do Pai, silenciosa, paciente, aguardando o momento do retorno consciente.
Quando a alma retorna, ela não é mais a mesma. Já não se apega à herança, pois compreende que a posse é efêmera, mas o reencontro é eterno. O Pai não exige explicações nem punições; antes, celebra a renovação daquele que compreendeu o valor do que fora negligenciado. O abraço que recebe não é apenas um gesto de acolhimento, mas a confirmação de que a escolha livre o levou ao entendimento do que realmente importa.
O filho mais velho, que permaneceu na casa, não percebe que sempre teve acesso a tudo. Sua obediência era formal, mas sua alma não havia se expandido. Não é a permanência que santifica, mas a consciência do dom recebido. O verdadeiro caminho não está na servidão temerosa nem na fuga inconsequente, mas na descoberta de que tudo já nos foi dado.
Assim, a parábola nos ensina que a liberdade encontra sua plenitude quando reconhece sua fonte. O homem não é chamado a meramente obedecer ou buscar fora o que já possui dentro, mas a despertar para a grandeza de sua própria existência, em comunhão com aquele que sempre o aguardou.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Herança da Comunhão Perene
A frase “Filho, tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu” (Lucas 15,31) condensa uma das verdades mais profundas da Revelação: a participação do ser humano na plenitude divina. No contexto da parábola, o pai responde à indignação do filho mais velho, que, apesar de ter permanecido fiel, não compreendeu a graça que sempre esteve à sua disposição.
Este versículo revela três dimensões essenciais do relacionamento entre Deus e o homem: presença, herança e consciência.
1. A Presença: O Mistério da Comunhão Contínua
O pai declara: “Tu sempre estás comigo.” Aqui, há um eco da promessa divina ao longo das Escrituras: Deus jamais abandona aqueles que são seus. No Antigo Testamento, ouvimos: “Eu estarei contigo todos os dias” (Josué 1,5), e no Novo Testamento, Cristo reitera: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim dos tempos” (Mateus 28,20).
O filho mais velho não se afastou fisicamente, mas sua percepção estava obscurecida. Ele não compreendia que sua permanência na casa do pai não era servidão, mas comunhão. Aqui está o ponto central: não basta estar na casa do Pai, é preciso viver com Ele em consciência.
2. A Herança: A Participação na Plenitude
“Tudo o que é meu é teu.” Esta afirmação transcende qualquer noção meramente material de herança. O que Deus possui, Ele não retém para si, mas deseja compartilhar. Esse princípio está na raiz da economia da salvação: Deus não apenas concede dons, mas nos chama a participar da própria vida d’Ele.
O apóstolo Paulo expressa essa realidade ao afirmar que somos “herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo” (Romanos 8,17). A filiação divina não é uma metáfora, mas uma realidade ontológica. O homem é chamado a ser não apenas servo, mas filho, e como filho, tudo o que pertence ao Pai pertence também a ele.
3. A Consciência: O Despertar para a Verdade
O grande drama do filho mais velho não era a ausência de bens, mas a ignorância de sua condição. Ele possuía tudo, mas não sabia. Sua atitude reflete a condição de muitos que vivem na Casa do Pai sem compreenderem a riqueza da graça.
Assim, este versículo não apenas esclarece a relação entre Deus e o homem, mas convida a um despertar: a vida em Deus não é uma espera passiva por recompensas futuras, mas uma realidade que pode e deve ser vivida agora. Tudo já nos foi dado – basta reconhecer e acolher.
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