sexta-feira, 21 de março de 2025

Homilia Diária e Explicação Teológica - 24.03.2025


 HOMILIA

O Caminho que Não se Detém

No silêncio da revelação, a verdade não se curva às limitações da percepção humana. Jesus, ao proclamar que nenhum profeta é aceito em sua pátria, desvela uma realidade perene: a resistência do mundo àquilo que desafia suas certezas. A luz, ao se manifestar, encontra aqueles que, habituados à penumbra, a rejeitam não por desconhecê-la, mas por temerem seu chamado.

Os exemplos de Elias e Eliseu apontam para a imprevisibilidade da graça. Ela não se submete às expectativas nem às convenções, mas age onde encontra espaço para se enraizar. A viúva de Sarepta e Naamã, o sírio, eram estrangeiros à promessa, mas, ao abrirem-se ao dom recebido, tornaram-se testemunhas vivas da liberdade divina. A escolha não é arbitrária, mas responde àquele que, sem restrições, acolhe a plenitude da verdade.

A ira dos que ouviam Jesus não brotou da incompreensão, mas da afronta ao orgulho que desejava delimitar a ação do Eterno. Queriam um Deus previsível, acessível apenas àqueles que se julgavam dignos. No entanto, o caminho da verdade não se detém diante das muralhas erguidas pela presunção humana. Ele atravessa o meio dos que o rejeitam e segue adiante, pois sua marcha não se submete a obstáculos.

Esse movimento é incessante e convida cada um a escolher: resistir por apego ao que é transitório ou avançar na direção da luz que não se apaga. A verdade não pertence a ninguém, mas é oferecida a todos. Só a aceita, porém, aquele que está disposto a abandonar as seguranças ilusórias e seguir o curso da existência para além das margens do conhecido.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A Rejeição do Profeta: A Dialética da Verdade e da Familiaridade

A afirmação de Jesus — "Em verdade vos digo que nenhum profeta é aceito em sua pátria" (Lc 4,24) — contém uma chave teológica profunda que revela a tensão entre a manifestação da verdade e a resistência daqueles que estão mais próximos dela. Essa realidade não se restringe ao contexto histórico de Nazaré, mas é uma constante na economia da revelação divina.

1. O Profeta e a Verdade que Perturba

O profeta não é apenas um anunciador do futuro, mas um porta-voz da verdade que transcende o tempo e as convenções humanas. Ele não fala em nome próprio, mas como aquele que transmite um chamado à conversão, à superação das limitações do pensamento humano e à adesão ao plano divino. No entanto, essa verdade não é confortável. Ela exige um rompimento com os esquemas estabelecidos e, por isso, encontra resistência justamente entre aqueles que mais deveriam reconhecê-la.

Jesus, ao proclamar essa sentença, insere-se na linhagem dos profetas rejeitados. Assim como Elias e Eliseu, citados logo em seguida (Lc 4,25-27), Ele também vê sua missão ser questionada por aqueles que esperavam um Messias conforme suas próprias concepções.

2. A Familiaridade que Gera Descrença

O paradoxo expresso na rejeição do profeta em sua própria pátria se relaciona com um fenômeno psicológico e espiritual: a dificuldade de reconhecer o extraordinário no ordinário. Os nazarenos conheciam Jesus desde sua infância. Para eles, Ele era "o filho de José" (Lc 4,22), alguém demasiado comum para que pudesse carregar a grandeza do enviado de Deus.

Esse preconceito nasce da ilusão de que a verdade deve sempre vir de fora, revestida de mistério e grandiosidade evidentes. Quando se manifesta na simplicidade e na proximidade do cotidiano, tende a ser ignorada. Assim, a rejeição de Jesus pelos seus conterrâneos não se deve à falta de sinais, mas à resistência em aceitar que Deus age também dentro daquilo que lhes parecia familiar.

3. A Dinâmica Espiritual da Rejeição

Essa recusa insere-se em um padrão recorrente na revelação divina. A história da salvação é marcada por uma tensão entre o chamado de Deus e a resposta do homem. Moisés enfrentou a resistência do próprio povo. Jeremias lamentou: "Desde o dia em que saí do ventre materno para ser profeta, tenho sido alvo de insultos e ultrajes" (Jr 20,8).

Isso nos leva a uma reflexão fundamental: a verdade muitas vezes é rejeitada não por falta de evidências, mas porque desafia as estruturas internas e externas daqueles que a recebem. O profeta não apenas anuncia, mas provoca um deslocamento, uma necessidade de sair do conforto das certezas e se abrir ao novo. Essa exigência gera medo, e o medo frequentemente se traduz em hostilidade.

4. Cristo: O Profeta que Segue seu Caminho

Diante dessa recusa, Jesus não força a aceitação. Ele não tenta convencer seus conterrâneos, nem ajusta sua mensagem para torná-la mais palatável. Pelo contrário, Ele reafirma o princípio da liberdade: a verdade se oferece, mas não se impõe. E então, "passando pelo meio deles, seguiu o seu caminho" (Lc 4,30).

Essa atitude revela que a missão divina não pode ser contida pela rejeição humana. O caminho da revelação segue adiante, encontrando aqueles que, com coração aberto, são capazes de reconhecê-lo. A graça não se submete às barreiras criadas pelo orgulho ou pela limitação da mente humana.

Conclusão: O Convite à Abertura Espiritual

A rejeição do profeta em sua pátria não é apenas um fato histórico, mas um fenômeno espiritual que se repete na vida de cada pessoa. Quantas vezes a verdade nos visita disfarçada de simplicidade e não a reconhecemos? Quantas vezes nos apegamos às nossas concepções e fechamos os olhos para aquilo que nos convida a crescer?

Jesus nos ensina que a verdade é dinâmica e livre. Ela não se prende às expectativas humanas nem se acomoda à resistência dos corações endurecidos. A pergunta que permanece é: estaremos nós entre aqueles que a rejeitam por parecer demasiado próxima, ou entre os que, mesmo sem compreendê-la totalmente, abrem-se para recebê-la?

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

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