HOMILIA
O Chamado à Verdade que Liberta
Amados, ao meditarmos sobre as palavras do Evangelho segundo João (7,1-2.10.25-30), somos conduzidos a uma realidade que ultrapassa o tempo e as circunstâncias. Jesus, mesmo diante da hostilidade, não se oculta na sombra do temor. Ele avança, consciente de que sua existência não é mero acidente, mas um desdobramento de uma vontade superior. Seu caminhar não obedece às imposições dos homens, mas à verdade que o sustenta.
“Vós me conheceis e sabeis de onde sou; mas não vim de mim mesmo; aquele que me enviou é verdadeiro, e vós não o conheceis.” (Jo 7,28). Essas palavras ressoam como um convite à busca autêntica do que é verdadeiro. Há aqueles que julgam conhecer Cristo por sua aparência, por suas palavras ou por suas ações, mas desconhecem sua essência. Assim também acontece com a verdade: muitos pensam tê-la apreendido, mas ainda não penetraram em sua profundidade.
A jornada de Jesus nos revela que a verdade não se impõe pela força, nem se curva às expectativas alheias. Ela simplesmente é. O tempo e as circunstâncias não a limitam, pois sua raiz não está no transitório, mas no eterno. Quem a reconhece não se prende ao medo, não negocia sua liberdade interior, mas avança com os olhos voltados para aquilo que transcende.
Cristo nos ensina que aquele que é enviado deve caminhar sem hesitação, pois sua existência tem um propósito que não pode ser detido pelas ameaças do mundo. A verdadeira liberdade não é ausência de desafios, mas a consciência de que nenhum obstáculo pode alterar o que foi inscrito no âmago do ser.
Diante dessas palavras, somos chamados a uma escolha: permanecer na superficialidade das aparências ou lançar-nos à profundidade daquele que nos envia. Quem busca a verdade não recua, pois sabe que ela não depende do reconhecimento humano, mas da fidelidade ao que é. Sejamos, portanto, aqueles que não apenas conhecem Cristo de nome, mas que o reconhecem na essência, trilhando o caminho da liberdade que somente a verdade pode conceder.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
A Origem de Cristo e o Véu da Verdade
A frase de Jesus em João 7,28 encerra uma profundidade teológica que nos conduz ao mistério de sua origem e missão. Ele se encontra no templo, o espaço sagrado onde a revelação divina deveria ser reconhecida, e, no entanto, seus ouvintes permanecem na cegueira espiritual.
1. "Vós me conheceis e sabeis de onde sou" – O Conhecimento Aparente
Aqui, Cristo reconhece que os judeus o conhecem em sua manifestação humana. Ele é identificado como Jesus de Nazaré, filho de Maria, criado na Galileia. Seu nome e sua origem terrena são reconhecidos, mas esse conhecimento é apenas superficial. É o conhecimento segundo a carne (cf. 2Cor 5,16), que não penetra a verdade mais profunda de sua identidade.
Essa limitação no entendimento reflete uma realidade espiritual mais ampla: há um conhecimento que se apoia no que os sentidos percebem, mas a verdade última não pode ser captada apenas por essa via. É um lembrete de que a razão sozinha, sem a abertura para o transcendente, não é suficiente para compreender a plenitude do ser de Cristo.
2. "Mas não vim de mim mesmo" – A Origem no Pai
Jesus rejeita a ideia de uma existência autônoma. Sua vinda ao mundo não foi uma decisão isolada, nem fruto de uma necessidade histórica, mas um ato de envio. Ele não é apenas um profeta ou um mestre que decidiu proclamar uma nova doutrina; ele é o Enviado, aquele que procede do Pai, em perfeita comunhão com Ele (cf. Jo 8,42).
Aqui, há uma negação radical de qualquer interpretação que veja Cristo apenas como um sábio ou um reformador. Ele não vem de si mesmo porque não é um ser isolado no cosmos; sua identidade só pode ser compreendida a partir do Pai que o envia. Esse envio não é apenas um ato externo, mas expressa a própria relação eterna entre o Filho e o Pai.
3. "Aquele que me enviou é verdadeiro, e vós não o conheceis" – A Verdade Oculta
A revelação de Jesus é, ao mesmo tempo, uma denúncia: aqueles que se consideram os conhecedores da Lei e da tradição não conhecem verdadeiramente o Pai. O conhecimento de Deus não é um dado garantido pela herança cultural ou pelo domínio intelectual da Escritura. Ele exige uma abertura do espírito, um reconhecimento que vai além do visível e do racional.
Jesus revela que há um véu sobre os olhos daqueles que o escutam. Deus, que deveria ser conhecido, permanece desconhecido para os que confiam apenas em sua própria compreensão. Isso ecoa a afirmação de João no prólogo de seu Evangelho: "A Deus ninguém jamais viu; o Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou" (Jo 1,18).
Conclusão: O Chamado à Verdadeira Compreensão
Essa passagem nos leva a refletir sobre a distinção entre o conhecimento exterior e a experiência profunda da verdade. Saber sobre Cristo não é o mesmo que conhecê-lo. Jesus desafia seus ouvintes – e a nós – a não ficarmos presos às aparências ou às interpretações limitadas, mas a buscar a verdade última, que não pode ser encontrada sem que o véu seja removido.
A questão que permanece é: conhecemos realmente aquele que enviou Jesus? Pois quem não conhece o Pai, ainda que pense saber de onde Jesus veio, permanece na escuridão.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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