quinta-feira, 10 de abril de 2025

Homilia Diária e Explicação Teológica - 12.04.2025


 HOMILIA

A Convergência dos Dispersos no Coração do Uno

No silêncio que precede a revelação, onde a realidade se desdobra como um véu em direção ao centro que a sustenta, ecoa uma frase que resume a economia da salvação: “para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos” (Jo 11,52). Aqui não se fala de um ajuntamento forçado, mas de uma atração interior, de uma convocação íntima à unidade a partir da liberdade de cada consciência.

A morte de um só pelo todo — como propôs Caifás — revela, sem saber, uma verdade que transcende a mera política dos homens. A doação do Uno, do Verbo encarnado, não visa salvar a nação como estrutura, mas os seres como espíritos em jornada. A unidade que se anuncia não é uniformidade. É convergência. Cada um traz consigo a irredutível centelha da origem, e é por essa luz que se reconhece o chamado.

A dispersão, nesse contexto, não é desordem, mas condição transitória da liberdade. Cada ser precisa experimentar-se como único para, no tempo justo, desejar participar do todo não como submissão, mas como comunhão. Eis o mistério profundo da união: ela só é plena quando brota do consentimento. Jesus retira-se, não por medo, mas porque o tempo da imposição não é o tempo da revelação. Ele aguarda o amadurecimento da liberdade no interior dos que O buscam.

Assim, a morte não é o fim, mas o ponto de inflexão. A semente não desaparece ao cair na terra: ela se transforma. O dom do Uno é o gesto por excelência da liberdade que se entrega para que cada espírito desperte, veja, deseje e caminhe por si mesmo ao encontro do amor total. Nessa dinâmica, cada escolha livre é um passo rumo ao centro onde todos se reconhecem.

Na fidelidade ao chamado, torna-se visível a lenta e amorosa reunião dos dispersos. Cada alma que responde contribui para a elevação do todo, e no entrelaçamento voluntário das consciências nasce o corpo invisível da nova criação. É aí que a celebração se cumpre, não como rito exterior, mas como reconhecimento mútuo de que fomos sempre chamados à unidade pela liberdade do amor.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

A frase: "e não somente pela nação, mas também para reunir em um só os filhos de Deus que estavam dispersos." (Jo 11,52) contém uma das mais densas expressões teológicas do Evangelho de João, revelando o desígnio universal da missão de Cristo e a dinâmica interna da salvação como movimento de unificação no Amor.

1. "E não somente pela nação"

Aqui, a "nação" se refere diretamente ao povo de Israel, escolhido por Deus na história para ser sinal da aliança, portador das promessas e caminho pedagógico para a revelação do Verbo. Contudo, ao dizer "não somente", o texto rompe a lógica de exclusividade e aponta para a superação dos limites étnicos, culturais e religiosos, iluminando o caráter inclusivo da obra de Cristo.

Esta não é uma rejeição da nação, mas sua transfiguração. A eleição histórica de Israel encontra seu cumprimento não na proteção de uma identidade isolada, mas na sua abertura como origem e canal de bênção para todos os povos (cf. Gn 12,3).

2. "Mas também para reunir em um só..."

A expressão "reunir em um só" é um eco profundo daquilo que, na teologia joanina, é a própria missão do Logos: instaurar uma unidade que transcende a agregação visível e se realiza no plano ontológico e espiritual. Esta unidade não é uma fusão nem uma homogeneização, mas uma comunhão que respeita a alteridade. Cristo não anula as diferenças, mas as assume e as transfigura numa síntese superior de Amor.

A ideia de "um só" evoca a comunhão trinitária: a unidade entre Pai, Filho e Espírito é o paradigma da unidade para a qual os seres humanos são chamados. Reunir em um só é, portanto, conduzir cada pessoa ao seu centro mais profundo, onde ela se reconhece como filha do mesmo Pai, irmã em um mesmo Corpo.

3. "Os filhos de Deus que estavam dispersos"

A dispersão tem uma dimensão histórica (a diáspora dos judeus), mas vai além: é símbolo da condição existencial da humanidade separada de Deus e de si mesma. A dispersão é a perda do eixo, o distanciamento do centro espiritual. Cada "filho de Deus" é, por vocação, alguém que traz em si a marca da origem divina, mas encontra-se, por liberdade mal orientada ou ignorância da verdade, fora da comunhão plena.

Cristo vem para chamar de volta cada um desses filhos, não por imposição, mas por atração, por revelação da verdade que liberta (cf. Jo 8,32). O verbo "reunir" (gregar em unidade) implica um caminho de retorno, de iluminação interior, de encontro entre o eu e o Tu divino que habita todas as consciências.

Conclusão

João 11,52 revela que a cruz, longe de ser apenas um drama local, é um ato cósmico e livremente oferecido que visa a regeneração do todo. O Cristo morre não por uma estrutura religiosa, mas para inaugurar o tempo da reconciliação entre o Criador e suas criaturas, entre as criaturas entre si e consigo mesmas. O projeto divino não é apenas salvar indivíduos isolados, mas formar um Corpo Uno, um organismo vivo onde cada ser, sem perder sua liberdade, participa conscientemente da comunhão eterna.

Este versículo revela que a salvação é o caminho da liberdade à unidade, da dispersão ao sentido, da exterioridade ao centro. É o convite permanente à interiorização, ao despertar da filiação e à resposta consciente ao Amor que chama.

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