domingo, 13 de abril de 2025

Homilia Diária e Explicação Teológica - 15.04.2025

 


HOMILIA

"O movimento da Luz que se entrega ao próprio sentido"

No coração do relato sagrado segundo João (13,21-33.36-38), encontramos um momento de silêncio que não é ausência, mas transbordamento. Uma presença que se dilui para ser mais real. Uma palavra que, ao anunciar a traição, não denuncia apenas um homem, mas revela o ponto em que a liberdade toca a eternidade.

"Et post buccellam introivit in eum Satanas. Et dicit ei Iesus: Quod facis, fac citius." (Jo 13,27)
Depois do pão, entrou nele o opositor. E Jesus, com olhos sem resistência, disse: "O que fazes, faze-o depressa."

Aqui, tudo vibra. A entrega não é derrota, é ato de direção plena. Aquele que é a Fonte não tenta impedir o fluxo, mas o assume. Pois o Amor não impõe, não bloqueia, não se protege. Ele se revela oferecendo-se à escolha do outro, mesmo quando o outro se torna sombra.

Jesus, ao mergulhar na noite do gesto de Judas, ilumina o que há de mais secreto no destino da consciência: a liberdade de fazer o que se acredita ser verdadeiro, ainda que isso revele o abismo. Não é Jesus que caminha para a morte. É a morte que caminha para o seu limite diante d’Aquele que ama até o fim.

Pedro, por sua vez, quer proteger, quer garantir sua lealdade. Mas o Cristo, conhecedor do movimento oculto das intenções, diz: “Non cantabit gallus, donec ter me neges.” — “Não cantará o galo antes que me negues três vezes.” (Jo 13,38)
Não por acusação, mas por compaixão. Pois o que se revela aqui é o percurso necessário da alma que, ao negar, reconhece. Ao cair, aprende. Ao dispersar-se, retorna.

Não há violência, apenas caminho. Não há erro absoluto, apenas movimento que, mais cedo ou mais tarde, se volta à Origem.

Neste Evangelho, há um silêncio maior do que a ação. Uma sabedoria que se curva diante da liberdade, mesmo sabendo do seu custo. A luz não conquista o mundo pela força, mas pela oferta de si. Aquele que é verdadeiro não prende, apenas mostra. Aquele que é pleno não exige, apenas atravessa.

Na ceia, o pão é entregue a Judas, como outrora foi multiplicado aos que tinham fome. Mas agora o pão é dado àquele que se perdeu. Pois não há abismo onde a entrega não vá.

E assim, aquele que é a Luz passa pela sombra, para que a sombra, um dia, se veja iluminada por dentro.


EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA

Explicação teológica profunda de João 13,27
"E após o bocado, entrou nele Satanás. E Jesus lhe disse: O que vais fazer, faze-o depressa."

Este versículo é um dos mais densos e misteriosos de todo o Evangelho segundo João. Nele convergem a liberdade humana, a revelação do mal, e a soberania do Cristo. Aprofundemo-nos em três níveis de leitura: ontológico, espiritual e cristológico.

1. Nível Ontológico: o ponto em que a liberdade toca a escuridão

"E após o bocado..."
O gesto de Jesus de entregar a Judas o bocado é mais do que um simples ato ritual. No contexto hebraico da ceia, oferecer o bocado a alguém era sinal de deferência, honra e amizade íntima. Jesus oferece a Judas, mesmo diante da iminente traição, um último sinal de amor, de abertura, de comunhão possível.

O "bocado" é, portanto, um símbolo da última oportunidade de escolha livre e consciente. Aquele que é a Verdade oferece-se ao coração dividido.

"...entrou nele Satanás."
Aqui, não se trata de uma possessão forçada, mas da plena adesão de Judas à negação do Logos, da ordem divina. O termo "Satanás" representa a ruptura, o adversário, aquele que fragmenta o movimento de unidade. O que entra em Judas é o resultado de sua decisão: a total recusa da verdade revelada, e a entrega de sua liberdade ao impulso contrário à plenitude.

Neste instante, Judas deixa de ser apenas discípulo confuso e se torna instrumento da desintegração. A sua liberdade, embora respeitada, é usada para estabelecer ruptura, não comunhão.

2. Nível Espiritual: o silêncio da luz diante da sombra

"E Jesus lhe disse: O que vais fazer, faze-o depressa."
Esta frase não é um comando, mas uma permissão. Não é cumplicidade, mas soberania. O Cristo, plenamente consciente do que se desenrola, não impede Judas. Ele o reconhece como um agente necessário dentro do mistério da redenção, mas sem jamais aprovar sua escolha.

Jesus, aqui, está no ápice da liberdade divina: Ele se oferece, não resiste, permite que a liberdade humana – mesmo quando mal orientada – siga o seu curso. Pois é justamente nesse curso, misteriosamente, que o desígnio da salvação será revelado.

Ao dizer "faze-o depressa", Jesus também mostra que não há hesitação no Amor. Ele não teme a cruz, pois vê além dela. Não se prende ao tempo do medo, mas ao tempo da fidelidade. O "depressa" é a urgência do Amor que precisa consumar-se, ainda que pelo escândalo da entrega e da traição.

3. Nível Cristológico: a luz que não se opõe à noite, mas a atravessa

Este versículo inaugura, na teologia joanina, o movimento irreversível da glorificação de Cristo. A traição de Judas não é o início da derrota, mas o ponto de entrada no mistério da vitória.

Jesus não é surpreendido, enganado ou traído num sentido passivo. Ele conhece o coração de todos (cf. Jo 2,25) e, ao permitir que Judas atue, Ele transforma o mal em ocasião para a revelação suprema do Amor: a Cruz.

O mal age com liberdade, mas Deus o transcende. A Cruz, gerada pela traição, torna-se o trono da glorificação. Judas sai da luz, e a Luz entra na noite – não para apagar-se, mas para redimir a própria escuridão.

Conclusão

João 13,27 não é apenas um registro de um momento histórico, mas o espelho da tensão entre liberdade e graça, entre luz e escuridão, entre o amor que se oferece e a recusa que se fecha.

Jesus não evita a dor, pois Ele é o Caminho. E esse Caminho passa por permitir que até a liberdade corrompida encontre lugar dentro do Mistério de Deus.

Assim, este versículo nos convida a reconhecer:
– que a liberdade sem verdade pode tornar-se instrumento da ruptura;
– que o amor autêntico respeita até a recusa;
– e que Deus, em Sua plenitude, redime até aquilo que parecia irreversível.

O bocado dado é a última chance de comunhão. A recusa, o início da noite. E a noite... é o portal da Aurora.

Se desejar, posso complementar com uma oração contemplativa baseada neste versículo.

Leia também: LITURGIA DA PALAVRA

Leia também:

Primeira Leitura

Segunda Leitura

Salmo

Evangelho

Santo do dia

Oração Diária

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