HOMILIA
A Luz que Transforma e Eleva a Vida
No Evangelho de Marcos 4,21-25, somos convidados a refletir sobre o propósito da luz que carregamos dentro de nós e como ela deve brilhar para o mundo. Jesus utiliza a metáfora da lâmpada que não é feita para ser escondida, mas para ser colocada no alto, onde pode iluminar a todos. Essa luz é o símbolo de nossa fé, de nossos dons e de nossa responsabilidade em transformar o ambiente ao nosso redor.
Nos dias de hoje, vivemos em um mundo que alterna entre sombras e progresso. De um lado, enfrentamos crises de desigualdade, indiferença e isolamento; de outro, presenciamos avanços incríveis em ciência, tecnologia e comunicação. No entanto, qual é o verdadeiro propósito desse progresso se a luz que recebemos não é compartilhada para promover a justiça, a solidariedade e o bem comum?
Jesus nos alerta que tudo o que está oculto será revelado, e a medida com que agimos será a medida com que receberemos. Isso nos desafia a examinar profundamente como utilizamos os dons que nos foram confiados. Estamos colocando nossa luz no alto, onde pode iluminar e inspirar os outros, ou a escondemos por medo, comodismo ou egoísmo?
A frase "Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" ressoa como um chamado à responsabilidade. Aquele que cultiva os seus dons e os utiliza para o bem verá esses dons multiplicados. Mas aquele que negligencia sua luz e sua vocação pode perder até mesmo o pouco que possui. Isso nos ensina que o progresso não é verdadeiro quando beneficia apenas a poucos, mas quando é colocado a serviço da humanidade inteira.
Hoje, somos convidados a nos tornar portadores de uma luz transformadora. Isso implica coragem para enfrentar as sombras do mundo, mas também sabedoria para usar os instrumentos modernos em favor daquilo que é essencial: o cuidado com o próximo, a busca pela verdade e a construção de um futuro onde a luz de cada indivíduo possa brilhar sem obstáculos.
Colocar nossa lâmpada no alto significa fazer com que nossas ações, nossos talentos e nossa fé se tornem faróis que iluminam as dificuldades e as possibilidades do nosso tempo. É nessa entrega que encontramos sentido e nos unimos ao movimento universal que nos chama para uma vida mais plena e verdadeira, rumo à realização do que fomos criados para ser: luz no mundo.
EXPLICAÇÃO TEOLÓGICA
Explicação Teologicamente Profunda de Marcos 4:25
"Pois ao que tem, será dado; e ao que não tem, até o que tem lhe será tirado" (Mc 4:25) é uma afirmação paradoxal que desafia a compreensão imediata e exige uma reflexão profunda sobre sua implicação espiritual, moral e escatológica. Para entendê-la, é necessário situá-la no contexto do Evangelho de Marcos e na pedagogia divina revelada por Jesus.
1. O Dom de Deus como Graça que Multiplica
Na perspectiva teológica, o "ter" mencionado no versículo não se refere à posse material ou ao acúmulo de bens terrenos. Jesus não está falando de um privilégio elitista ou de uma injustiça divina, mas da disposição interior de acolher e responder à graça de Deus. "Ter" é, nesse contexto, possuir abertura ao Espírito, humildade para acolher a verdade e generosidade para compartilhar os dons recebidos.
Quem possui essa disposição encontra um crescimento exponencial na vida espiritual. Aquele que cultiva a fé, a caridade e a esperança não apenas se torna mais pleno, mas também torna-se capaz de gerar frutos espirituais em abundância. Esse "será dado" é o dinamismo do Reino de Deus: quanto mais nos entregamos à vontade divina, mais somos capacitados e enriquecidos pela graça.
2. O Risco da Estagnação e da Negligência
Por outro lado, "não ter" não implica uma ausência inicial de dons, mas sim uma postura de fechamento, indiferença ou negligência para com aquilo que foi recebido. Todo ser humano é dotado de potencialidades e chamado a participar do Reino. Porém, aquele que endurece o coração, que recusa os convites à conversão, ou que esconde a sua "lâmpada" embaixo do alqueire, perde até mesmo a capacidade de reconhecer o pouco que possui. Essa perda não é uma punição arbitrária de Deus, mas uma consequência natural do afastamento da fonte da vida e da verdade.
3. A Economia do Reino de Deus
No Reino de Deus, a dinâmica da abundância não segue a lógica do mundo. Enquanto na sociedade humana o "ter" é frequentemente acumulativo e egoísta, no Reino, o "ter" é participativo e generoso. O que se recebe é dado para ser compartilhado, e na partilha o dom se multiplica. Aquele que enterra seu talento (como na parábola dos talentos, Mt 25,14-30) perde-o porque não o colocou a serviço, enquanto o que arrisca e trabalha com o que recebeu vê os frutos florescerem.
4. Uma Chave Escatológica: A Preparação para o Juízo
Esse versículo também possui uma dimensão escatológica, relacionada ao juízo final. O "ter" significa estar preparado, viver em vigilância e fidelidade à missão recebida. Quem persevera na fé e na obediência ao Evangelho será recompensado com a plenitude da comunhão divina. Por outro lado, aquele que rejeita o chamado de Deus, mesmo que pareça ter algo (como obras exteriores ou méritos humanos), verá tudo isso desmoronar diante da luz da verdade. Como em Mateus 7,21-23, as aparências não bastam; é necessário que a vida esteja verdadeiramente enraizada em Cristo.
5. Aplicação Prática e Espiritual
Esse ensinamento é um convite ao discernimento e à ação. Ele nos desafia a:
- Reconhecer os dons espirituais recebidos como graça de Deus, não como mérito próprio.
- Cultivar esses dons com dedicação, oração e serviço ao próximo.
- Evitar a apatia espiritual e o fechamento à graça, que levam à esterilidade e à perda da plenitude de vida que Deus deseja para cada um de nós.
- Estar atentos à pedagogia divina, que multiplica em nós o bem quando o colocamos em circulação e nos corrige quando nos afastamos do caminho do amor.
6. Uma Conclusão Cristocêntrica
Em última análise, essa frase aponta para Cristo como a luz que ilumina tudo. Ele é o modelo perfeito de quem "tem" em plenitude e se dá completamente. Sua vida, morte e ressurreição nos ensinam que quanto mais nos esvaziamos para Deus e para os outros, mais somos preenchidos pelo amor divino. A frase, portanto, não é apenas um alerta, mas também uma promessa: aqueles que se abrem à luz de Cristo jamais ficarão no vazio, mas receberão em abundância o que lhes é necessário para alcançar a vida eterna.
Leia também: LITURGIA DA PALAVRA
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